Barroco Português. Europa séculos 16 e 17. Brasil séculos 18 e 19. A designação passou do português para o italiano, barocco, e o francês, baroque. A designação é uma analogia com a pérola (e também com a pedra), antigamente chamada barroca, ou seja, que é arredondada e apresenta formas irregulares.

ARQUITETURA. O gosto pelo barroco surgiu na Europa a partir dos finais do século 16, inicialmente na Itália da década de 1620, movimento que ficou ligado à Contra-reforma da Igreja Católica e aos jesuítas.

A ordem jesuítica foi fundada em 1543. Em 1568, os jesuítas estavam em plena construção da Igreja de Jesus em Roma, modelo que veio para o Brasil colonial através da tradição lusitana. Essa igreja, que assinala o início da arquitetura barroca eclesiástica, sofreu a influência do teórico e arquiteto Giacomo Barozzi da Vignola (1507-73). A arte da Contra-reforma mostra uma Igreja triunfante, rica e poderosa, que utiliza prata e ouro, recorre aos anjose amorinos, tochas, colunas em espiral, volutas e baldaquinos.

Foram alguns arquitetos sediados em Roma que organizaram e deram ordem aos primórdios do barroco, principalmente Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) e Francesco Borromini (1599-1667); além do pintor Pietro da Cortona (1596-1669).

O movimento se espalhou por outros países, em cada região assumindo características nacionais. O renascimentopermanecia supostamente refém do maneirismo.A Igreja Católica, o mais importante poder financiador das artes nessa época, defendia a volta à tradição e à espiritualidade. As linhas curvas e exuberantes foram procuradas para exprimir emoções exacerbadas e teatrais. Sua predominância durou até os inícios do século 18, quando foi substituído pelo rococó.

PINTURA. Uma das características dos artistas barrocos é sua refinada preparação técnica em todas as suas atividades, fosse na arquitetura, escultura ou pintura. Além de uma grande preocupação com os efeitos visuais espetaculares, criando uma teia de relações espaciais capazes de criar uma ilusão, de “espantar”, de levar o observador a compartilhar a emoção da obra de arte. Apesar de sua concepção rebuscada, o artista recorria, por vezes, a um ilusionismo bem naturalista para atingir efeitos de luz e de volumetria, que criava um ambiente dramático, impregnando a obra de arte com uma energia própria, inserida num contexto teatralizado, próprio para surpreender e encantar o “espectador”.

Alguns pintores, como G. F. Guercino (1591-1666), aproveitaram os efeitos da pintura ilusionística para criar espaços profundos, onde se veem portas e corredores. O espanhol Diego Velásquez (1599-1660) recorreu a espelhos para recriar essas espacialidades.

A tradição do renascimento cultivara uma pintura voltada para os assuntos mais solenes, como alegorias, retratos, temas religiosos, históricos e mitológicos.

Os artistas barrocos, ajudados por uma burguesia cada vez mais poderosa, passaram a se interessar por assuntos profanos, paisagens, naturezas mortas, flores, frutos e cenasde gênero. Também continuaram a tradição de Michelangelo Caravaggio (1573-1610), de representar as pessoas simples de maneira naturalista, sem idealização. A paleta barroca foi variada, percorrendo todas as cores e tonalidades, sobretudo nos trabalhos de “claroescuro”. A pintura barroca é tão rica, espalhada e diversificada, que parece impossível enumerar seus principais representantes.

Entre os pintores que procuraram novos temas, estão: Johannes Vermeer (1632-75), Jacob van Ruysdael (1628-82) e Claude Lorrain (1600-82).

Além dos já citados, podemos mencionar, na França: Nicolas Poussin (1594-1665) e Georges de La Tour (1593-1652); na Espanha: Diego Velásquez (1599-1660) e José de Ribera (1591-1652); na Itália: Michelangelo Caravaggio, Guercino (1591-1666), Annibale Carraci (1560-1609) e Guido Reni (1575-1640): e na Holanda: Frans Post (1612-80), Rembrandt van Rijn (1606-69), J. Vermeer (1632-75), Franz Hals (1582-1666), Jacob Jordaens (1593-1678) e Peter P. Rubens (1577-1640).

ESCULTURA. A escultura tornou-se mais viva e afastou-se dos cânones renascentistas. Os artistas se sentiram à vontade para recorrer a toda espécie de materiais, e com liberdade para os combinar entre si. O mármore podia se juntar ao alabastro ou ao bronze e à madeira, sendo o ouro e a prata associados a outros suportes nobres, como o marfim. Os grupos escultóricos eram tratados arquitetonicamente e, por vezes, parecem flutuar, tal a ilusão criada.

Entre inúmeras esculturas italianas, podemos citar uma exemplar: “(...) O espírito da Contra-reforma anima a Santa Teresa de Ávila da capela Cornaro (na igreja), de Santa Maria della Vitória, em Roma. Esculpida em mármore branco, toda a capela está arranjada como um teatro. Um proscenio enquadra o altar. Dos lados, colunas geminadas suportam uma cimalha cuja linha é composta por uma sucessão de movimentos côncavos bruscamente interrompidos no centro por um movimento convexo, igualmente adotado pelo frontão. Nesta parte convexa foi aberta uma pequena janela que dá passagem aos raios luminosos que caem sobre a escultura como um projetor. Estes traços de luz parecem tanto mais sobrenaturais quanto é certo que eles se ligam a raios de metal dourado que se terminam sobre as personagens. As próprias paredes laterais da capela intervêm neste cenário: os membros da família Cornaro, esculpidos em alto-relevo, contemplam o palco do alto das suas frisas. Este quadro pertence bem ao século e ao país onde nasceu a ópera. Por cima do altar, Santa Teresa desfalece em êxtase. Bernini escolheu o instante descrito pela mística em que um anjo lhe apareceu em sonho e a atravessou com uma flecha. Ela sentiu um gozo profundo acompanhado por uma dor tal que a fez desmaiar(...). Essa obra exprime plenamente a arte barroca.” (Upjohn, Wingert e Mahler, História Mundial da Arte, 4. vol. pág. 21).

ABRANGÊNCIA DO BARROCO. O estilo abrangeu todas as manifestações da arte, da pintura à arquitetura, decoração em tecidos, mobiliário, escultura e literatura. Inicialmente disperso, enquadrou-se progressivamente em regras e cânones. Manifestou-se um revivalismodo barroco no século 19, no período do chamado Segundo Império francês, cujo estilo ficou conhecido como Napoleão III. (1852-70). A Ópera de Paris e o Teatro Municipal do Rio de Janeiro têm influências barrocas. Durante muito tempo, o movimento sofreu acusações de que teria menor valor estético, mas a partir do final do século 19 voltou a figurar como uma das expressões mais poderosas e significativas da história da arte.

Em Portugal, o estilo expandiu-se entre os inícios do século 17 e meados do seguinte. Alguns exemplos: Aqueduto das Águas Livres (Lisboa); Igreja e escadarias do Bom Jesus (Braga), que deve ter inspirado o Bom Jesus em Congonhas do Campo, Minas Gerais; Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, já misturado ao rococó (Lamego); o Convento de Mafra, que inclui uma biblioteca de 88 metros de comprimento; e a Biblioteca da Universidade de Coimbra, considerada um dos exemplos de barroco arquitetônico mais perfeitos do mundo.

No Brasil o apogeu da predominância barroca deu-se no século 18 e no início do seguinte, influenciado pelo maneirismo, então dominante em Portugal. Intimamente ligado ao luxo, aos espaços públicos, à riqueza e ao domínio da Igreja, os artistas barrocos utilizaram em suas obras o ouro (no Brasil: Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro) e a prata (em alguns países da América espanhola, como Peru, Bolívia, México, Equador).

As esculturas do mestre Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), as pinturas de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) e a arquitetura das cidades históricas de Minas, Bahia e Pernambuco são resultados preciosos da influência do movimento. No Mosteiro de Santo Antônio e na Capela Dourada, em Recife; e no Convento de Santo Antonio, em João Pessoa, existem igualmente exemplos notáveis de arte barroca. 

Os modernistas brasileiros recuperaram a imagem do barroco colonial como um excelente período artístico. Neste caso, tratava-se de uma reação aos preconceitos no neoclassicismo, introduzido no país pela Missão Artística francesa.       
      
De maneira esquemática, podemos dividir o barroco internacional em três fases:
- Inícial (C 1590-C 1625). Embora continuando sob o patrocínio de Roma, grandes artistas se distanciam do maneirismo eassumem um gosto mais naturalista e vigoroso. Exemplos: o arquiteto e escultor Lorenzo Bernini; o arquiteto Carlo Maderno (1556-1629) e os pintores Annibale Carraci e Michelangelo Caravaggio.

- Apogeu (C. 1625-1660). Na Itália, os trabalhos dos arquitetos Bernini e Francesco Borromini (1599-1667); na França, os pintores N. Poussin e C. Lorrain (1600-82). E uma extensa lista, com expoentes como Rembrandt, Rubens, Velázquez, e A.van Dyck.

- Tardio (C. 1660-1725). A França se torna o lugar proeminente, ultrapassando a Itália, em parte pelo patrocínio de Luis XIV, o Rei Sol. O estilo se populariza em toda a Europa e atravessa o Atlântico, implantando-se nas Américas.



Barroco, N. Poussin, Cristo e a adúltera, 1653   Barroco, P. P. Rubens, São Jorge e o Dragão, 1606   Barroco, Biblioteca da Universidade, Coimbra, Portugal   Barroco, Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, São Fracisco, Ouro Preto, MG   Barroco, SantaTeresa de d' Ávila, Roma   Barroco, São Pedro, Viena, Áustria   Barroco, J. de Ribera, Sagrada Família   Barroco, Igreja do Gesu, Roma, arquit. G. Vignola,1575-84.
 
Barroco, G. la Tour, Madalena arrependida, 1640   Barroco, G. Bernini, Fauno e crianças, 1616   Barroco, G. B. Vignola, Palazzo Bocchi   Barroco, F. Borromini,, A capela Spada, Roma   Barroco, D. Velasquez, Festa de Baco, 1628   Barroco, Clodion, Sátiro e bacante   Barroco, Caravaggio, Narciso, 1598   Barroco, C. A. Cayot, Cupido e Psyche, 1706   
 
Barroco, arquiteto F. Borromini, cúpula de San Carlo alle quattro fontane, Roma, 1665-68   Barroco, Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, passo da paixão, Congonhas, MG   Barroco, A. van Dyck, O Imperador Carlos V   Barroco, A. F. Lisboa, o Aleijadinho, Congonhas, MG, 1800-05   Barroco francês, Galeria dos Espelhos, Palácio de Versalhes, França, começada em 1678   Barroco alemão, Residenz, arquiteto J. B. Newmann, Würzburg, 1735-42