Desde que descobri a
cerâmica, e em especial a porcelana, como veículo de
expressão, em 2001, fiquei encantado pelas possibilidades que este
material me fornece. Após um longo período em que meu veio artístico
permaneceu adormecido, ocupava-me naquele momento, como autodidata,
em fazer esculturas de pedra-sabão, material muito friável e de
difícil manejo. Um novo mundo se abriu em minha frente ao conhecer a
porcelana. Sua plasticidade faz com que ela obedeça
inteiramente à minha vontade, capacitando-me a fazer pequenos
detalhes e filigranas. Os esmaltes e os óxidos me permitem captar a
luz, fazer uma releitura de técnicas que aprendi nos tempos em que
me dedicava à gravura em metal nos idos da década de
1980.
Por outro lado, o forno de alta temperatura e o
esmalte me arremessam no acaso e na descoberta de efeitos antes
impensados. Esta magia faz do trabalho com a cerâmica algo
extremamente prazeroso e instigante. Isto é, o gosto da obra não
reside apenas no resultado plasticamente belo, mas sobretudo no
processo de feitura e na pesquisa. Em cada peça nova que começo,
proponho-me um desafio, visando alcançar aquilo que ainda não
tentei. Cada resultado abre-me um leque de novas possibilidades. A
porcelana se apresenta para mim como um campo fértil para a minha
imaginação, estimulando a criatividade. Se cada bom resultado que
consigo faz com que aumente o meu encanto pela técnica, cada
fracasso, cada peça que perco, que se racha no forno devido à
delicadeza do material, levado ao seu limite, atiça ainda mais a
minha vontade de tentar novamente. Algumas obras foram
refeitas duas ou três vezes, partindo novamente da massa
amorfa, até que eu conseguisse o efeito que queria. Ou então, estas
mesmas rachaduras servem-me de fonte de inspiração, abrindo-me uma
possibilidade simbólica inusitada.
Dentro da vida agitada que levo como médico
psiquiatra, repleta de compromissos e obrigações, o tempo que dedico
à minha arte tem para mim um caráter sagrado. Trabalhando com o tema
do sagrado, o tempo toma uma outra dimensão e a obra envolve-me por
completo. Algumas peças exigiram-me semanas, senão meses de
trabalho. As horas que passo em cima de cada peça servem-me quase
como um exercício de meditação, onde não mais o meu pensamento está
presente, mas o meu ser por completo.
Antonio
Aranha