Os painéis "Guerra e Paz" representam sem dúvida o melhor trabalho que já fiz...
Dedico-os à humanidade...
Cândido Portinari
(Agência Reuters, 1957)
 
 
GUERRA   E  PAZ
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Em 1952, o então Secretário Geral da ONU, Sr. Trygve Lie, sugere que cada nação membro da Organização das Nações Unidas faça uma contribuição cultural àquela instituição cuja sede está sendo construída. O governo brasileiro, através do Ministro das Relações Exteriores na época, João Neves da Fontoura, encomenda então a Portinari, dois painéis que serão oferecidos à ONU  para decorar sua sede.

O projeto foi desenvolvido pela Comissão Internacional dos Arquitetos da ONU, chefiada por Wallace K. Harrison e teve Oscar Niemeyer como um dos seus membros.
 
Em 1953 as maquetes estão prontas. Em 1954, Portinari mostra as maquetes na exposição em homenagem ao IV Centenário da Cidade de São Paulo, realizada no Museu de Arte de São Paulo/MASP. Nesta ocasião as duas maquetes já estavam aprovadas pela junta Assessora de Arte da ONU. O tema seria "Guerra e Paz".
 
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Portinari fez cerca de 180 estudos para compor os painéis "Guerra e Paz"

 

ESTUDOS  PRELIMINARES

A execução dos painéis começa, então, no Rio de Janeiro, em março de 1955, em galpão da TV Tupi, cedido a Portinari por Assis Chateaubriand e estará concluída em janeiro de 1956. Trata-se de vinte e oito placas de madeira, de mais ou menos 75 kg cada uma, com 14 m de altura  x 10m de largura compondo cada painel, pintados a óleo sobre madeira compensada naval. Enquanto um é uma representação da Guerra, o outro representa a Paz. Por seu trabalho com os painéis, Portinari foi agraciado em 1956 com o prêmio concedido pela "Solomon Guggenheim Foundation" de Nova York.

Portinari teria gostado de ter pintado os painéis no próprio local na ONU, em Nova York, mas o artista não conseguiu o visto de entrada para os Estados Unidos em razão de suas convicções políticas: Portinari era comunista e na época os EUA viviam o período do Macartismo.
 
Esses estudos para "Guerra e Paz" foram comercializados. Braços erguidos em desespero, pietàs lacrimosas, mãos escondendo rostos, feras, cavalos, guerreiros, crianças, semeadores, dançarinos, as partes do todo deram orígem à produção impressionante de estudos espalhados pelo mundo.
 
Na época em que Portinari recebeu a incumbência de fazer os murais "Guerra e Paz", ele estava proibido de pintar devido à descoberta de um processo de envenenamento causado pelo chumbo das tintas. Mesmo sabendo os riscos que corria, o artista decidiu pintar os quadros. 
 
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Os painéis de "Guerra e Paz" expostos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 1956
 
EXPOSIÇÃO  NO  TEATRO  MUNICIPAL  DO  RIO  DE  JANEIRO
 
Em janeiro de 1956, Portinari entregava os painéis "Guerra e Paz" ao Ministro das Relações Exteriores, Macedo Soares, para doação à ONU.
 
Em fevereiro de 1956, antes de serem entregues às Nações Unidas, os painéis foram expostos no Teatro Municipal com a presença do Presidente da República, Juscelino Kubitschek. Foi ali a primeira vez que o povo brasileiro e o próprio pintor tiveram a emoção de vê-los erguidos em sua monumentalidade.
 
Nunca, na arte moderna do mundo inteiro, um pintor viu as suas obras substituirem os acordes de Wagner e Verdi, a fantasia dos ballets de Tchaikowsky, a majestade das orquestras sinfõnicas, Pela primeira vez no século XX, o maior teatro de uma cidade transforma-se em templo de pintura.
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ONU, em Nova York, onde os painéis de "Guerra e Paz" estiveram de 1956 a 2010
 
"... a mais importante obra de arte monumental doada à ONU."
Dag Hammarskjold, Secretário-Geral da ONU, 1957
 
EXPOSIÇÃO  NA  ONU,  EM  NOVA  YORK
 
A colocação dos painéis de Candido Portinari na ONU foi pensada de forma estratégica, com o intuito de reforçar a mensagem da obra: ao entrar no hall, depara-se com a obra "Guerra";  ao sair, depara-se com a "Paz". Sempre foi assim e continuará sendo quando os trabalhos voltarem para a sede da organização, cuja reforma deverá terminar em 2013.  Até lá, "Guerra e Paz" ficará sob a guarda do Projeto Portinari, criado na década de 1970 pelo filho do artista, João Cândido Portinari, o Governo brasileiro e a ONU.
 
Em meio século no hall da ONU, vizinhos de grandes paredes envidraçadas e sujeitos à incidência diária dos raios ultra-violeta, os painéis sofreram um efeito clareador dos pigmentos. Por outro lado, houve pouco descolamento nas camadas de tinta. Já na junção das placas havia sujeira acumulada. 
 
Em contrapartida ao empréstimo, a ONU exigiu a restauração dos painéis, que foi realizada entre fevereiro e maio de 2011 no Rio de Janeiro.
 
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Exposição no Rio de Janeiro, antes do restauro
 
EXPOSIÇÃO NO RIO DE  JANEIRO ANTES DO RESTAURO
 

No retorno ao Brasil, "Guerra e Paz" contou com uma exibição franca que foi de 22 de dezembro de 2010 a 6 de janeiro de 2011, no Rio de Janeiro, e daí os painéis foram para o restauro no Palácio Capanema.

Após essa providência,  os painéis de "Guerra e Paz"serão exibidos no Memorial da América Latina, em São Paulo, de 7.2.2012 a 21.4.2012, e daí seguirão um itinerário que deve passar pelo "Grand Palais", em Paris, pelo "Memorial da Paz" de Hiroshima, no Japão, pelo "Auditório Municipal", de Oslo, onde ficarão expostos durante a entrega do Prêmio Nobel da Paz e pelo "Museu de Arte Moderna", de Nova York. Daí, então, devem voltar ao prédio da ONU, cuja reforma está prevista para terminar em 2013.

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Restauradores trabalhando nos painéis "Guerra e Paz" no Palácio Capanema
 
RESTAURO
 
 
A equipe que fez o trabalho contou com 18 técnicos liderados por Edson Motta Júnior e Cláudio Valério Teixeira, professores da UFRJ.

O coordenador dos trabalhos de restauração, Edson Motta Júnior, afirma que entre 80% e 90% das cores originais foram recuperadas. De acordo com o restaurador, na ONU os painéis ficaram expostos à luz por meio de uma janela de vidro, e o sol se punha "em cima" deles. Houve também o acúmulo de sujeira e fuligem ao longo dos anos. "O que se perdeu pela luz, o que desbotou, não conseguimos recuperar".

O curioso é que os restauradores contaram que, em todos esses anos que os painéis passaram na ONU, o que mais sofreu com a ação do tempo foi, justamente, a "Paz".

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Créditos:
 
Fontes (editadas)
e outras informações sobre Candido Portinari e sua obra "Guerra e Paz",
podem ser encontradas no site
 
 
Página -  Especiais
Candido Portinari, Guerra e Paz 2
 
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Fundo Musical:
Choro nº 1
Heitor Villa Lobos,  *1887   +1959
 
 
 
Produção:
Mario Capelluto
 
Pesquisa, edição de textos e formatação:
Ida Aranha
 
 
 
Fevereiro, 2012
 
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