J. Araujo
Minha família é da Bahia, precisamente do interior Conceição de Coite. Nem sei como andam as coisas por lá ou se alguma hidroelétrica a engoliu. Sei sim que era um lugar lindo e eu menino ia com minha mãe visitar os pais dela. De lá tenho muitas e muitas recordações: do passeio de trem, da linda viagem, do apito, da batida do coração de ferro dele e da estação. Coisa de conto de fadas. |
Tive uma infância no mato da roça, da mangueira, do abacate, do açude e do riacho. Meu avô Argemiro pegava as melancias verdes e desenhava meu nome - Natinho como me chamavam. Elas iam crescendo e, quando grandes, ele vinha com uma nos braços e me mostrava: eram umas melancias enormes, dava pra sentar em cima. Lá na roça fui vendo as cores, as borboletas e as flores. Minha mãe gostava de desenhar e eu ficava olhando. Eu dizia que ela escrevia figuras. |
Fui internado no colégio dos Irmãos Maristas, onde cursei o primário, depois fui para o Dois de Julho e de lá para o Rio de Janeiro, onde meu pai escolheu para continuar a sua jornada. E de pau de arara chegamos aqui. Fomos para pensões e depois para o Hotel Argentina no Catete. Foi dura e linda essa odisséia. Estudei no Colégio Guanabara e no Rio de Janeiro, mas eu não gostava de estudar. Acabei saindo e, fazendo mais tarde o artigo 99, entrei para a Escola de Belas Artes e também para a de Desenho Industrial ao lado do Automóvel Club. |
Já rapaz, com uns 17 anos, andava eu em Copacabana com um quadro em cada mão, na maior cara de pau oferecendo para as pessoas, e um dia, entrando no "Lucas", um rapaz de cerca de uns 30 anos me chamou. Mostrando um livro pra mim perguntou: -Você sabe o que e arte naif? -Não,
não sei. -É esta arte que você pinta. Você pode ir na minha galeria que fica ali, logo depois da Sá Ferreira.
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Aí tudo começou. Fiz a primeira exposição com a ajuda dele no Hotel Miramar e depois fiz outra na Montmartre Jorge, sua galeria-loja-brechó, tudo junto, lugar encantador.
Jorge Beltrão foi o primeiro marchand cearense brasileiro com sotaque francês e o maior do Brasil. Ele é quem colocou a Arte nas paredes da sociedade da época. |
Outras referências sobre J. Araujo encontram-se
nas mostras I e II.
Contato: Email:
jaraujo@barralink.com.br
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Fundo musical:
Guacyra
Heckel
Tavares,
1896 -
1969
Produção: Mario
Capelluto
Supervisão: Ida
Aranha
Formatação: Julia
Zappa
mario.capelluto@terra.com.br
www.saber.cultural.nom.br
www.sabercultural.com
www.sabercultural.org
Abril 2008
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