Nos trabalhos que se faz na vida sempre se
deixa alguma digital tinta de sangue.
Deste sangue que escorre do coração para as
mãos quando as idéias vão transbordando de dentro da gente.
É
nas telas tatuadas com as tintas que uso que eu vejo melhor e
que entendo um pouco mais o mundo que me cerca.
Dos projetos iniciais, assim que o trabalho
começa a acontecer, pouco sobra. Tudo vai se modificando como
se de alguma maneira própria os elementos fossem aos poucos
tomando seus lugares de direito e agarrando as rédeas do andar
de tudo em suas mãos.
De repente o tom da cor que eu acreditava ser
perfeito para aquele específico ponto da tela já não se adapta
e outro tom o susbstitui numa escolha aparentemente proposta
pelo jeito que a tela foi tomando em seu acontecer.
Acho que há uma espécie de submissão não
escrava a uma estética interna da própria obra.
Então novas imagens vão surgindo vindas de
dentro de mim e se pondo ante meus olhos sempre
atônitos.
Não sei explicar muito bem mas sei que é
assim que acontece.
A
mim me parece que os elementos estéticos são, embora
independentes entre si, tais como os instrumentos de uma
orquestra, ligados quase como amantes em sua
consonância.
Esses elementos se completam e compõem
juntos o trabalho final ou, como Caetano Veloso diz com sua
característica perfeição de dizer,
“ou não".
Haydée Colussi
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