CUERPO DE
MUJER
Pablo Neruda
Cuerpo de mujer, blancas colinas,
muslos blancos, Te pareces al mundo en tu actitud de
entrega. Mi cuerpo de labriego salvaje te
socava Y hace saltar el hijo del fondo de
la tierra.
Fuí solo como un túnel. De mí huían
los pájaros Y en mí la noche entraba su
invasión poderosa. Para sobrevivirme te forjé como un
arma, Como una
flecha en mi arco, como una piedra en mi
honda.
Pero cae la hora de la venganza, y
te amo.
Cuerpo de piel, de
musgo, de leche ávida y firme. Ah los vasos del pecho! Ah los ojos
de ausencia! Ah las rosas del
pubis! Ah tu voz lenta y
triste
Cuerpo de mujer mía, persistiré en
tu gracia.
Mi
sed, mi ansia sin límite, mi camino
indeciso! Obscuros cauces donde la sed
eterna sigue, Y
la fatiga sigue, y el dolor
infinito.
CORPO DE MUJER
Pablo Neruda
Tradução de Domingos
C. da Silva
Corpo de mulher,
brancas colinas, coxas brancas, Ao mundo te assemelhas em teu ato de
entrega. O
meu corpo selvagem de camponês te escava E faz saltar o filho das entranhas da
terra.
Fui um túnel vazio. De mim
fugiam pássaros E a noite me
infiltrava sua invasão resoluta. Para
sobreviver forjei-te qual uma arma, Como uma flecha em meu
arco, como uma pedra em
minh'alma.
Mas chega a hora
da vingança, e te amo. Corpo de pele e musgo, de leite
ávido e firme. Ah... As taças do peito! Ah... Os
olhos de ausência! Ah... As rosas do
púbis! Ah... Tua voz lenta e triste!
Corpo de mulher minha, persistirei
em tua graça. Minha sede, minha ânsia sem limite, meu caminho
indeciso! Sulcos escuros onde a
sede eterna corre E continua a
fadiga e a dor, este
infinito.
Fonte:
Pablo Neruda, "Veinte poemas
de amor y una canción desesperada".
José Olímpio Editora, Rio de
Janeiro, RJ, 5ª edição, 1979,
pag. 12-13 , Tradução de Domingos
C. da Silva
Declamado por Juan J.
Torres
Pablo Neruda
Dados biográficos
Poeta chileno, Pablo Neruda,
pseudônimo de Neftali Ricardo Reyes, em homenagem ao
escritor tcheco Jan Neruda, nasceu em Parral a 12 de
julho de 1904 e morreu em Santiago a 23 de setembro de
1973. Como estudante, participou ativamente de diversas
manifestações artísticas e ideológicas, e escreveu seus
primeiros versos.
Nomeado cônsul-geral do Chile em
Rangún, na Birmânia (1927), Neruda serviria
sucessivamente em Djacarta, Buenos Aires, Madri e
México. Eleito senador em 1945, de 1948 a 1952 esteve
exilado em Paris. Em 1971 foi novamente feito embaixador
do Chile em Paris e recebeu o Prêmio Nobel de
Literatura.
Um dos maiores poetas chilenos e da
literatura contemporânea em geral, a obra poética de
Neruda passa com o correr dos anos por fases bastantes
distintas. Se em Crepusculario (1919,
publicado em 1923) é lírico, utilizando forma e
linguagem tradicionais, em La Canción de la fiesta
(1921) começa a surgir certa preocupação
social, ainda que indefinida.
Os temas sociais desaparecem
temporariamente da obra de Neruda a partir de seus
angustiados Veinte poemas de amor y una canción
desesperada (1924). Nesse livro talvez esteja o
melhor do seu lirismo puro. Num tom melancólico, canta a
mulher amada, sua ausência, a tristeza que beira o
desespero. Nesse livro os versos já são herméticos, mas
Neruda ainda respeita a gramática e a sintaxe
tradicionais.
Em Tentativa del hombre infinito
(1925) os versos já não são bem comportados. Em
densa atmosfera de angústia instaura-se o caos verbal:
versos, sintaxe, ortografia são absolutamente livres, e
as imagens, as mais das vezes, incompreensíveis. Neruda
tem do mundo uma visão desolada e a falta de sentido da
vida reflete-se no poeta, em total descaso pela forma.
A preocuçaão social de seus
primeiros poemas retorna em España en el corazón
( (1937), mas agora já acompanhada de um cada vez
maior engajamento político-partidário. A partir de
Tercera residencia (1947) Neruda será cada vez
menos hermético, cada vez mais didático, cada vez menos
lírico, cada vez mais épico. À medida em que aumenta sua
politização, o poeta vai retornando à linguagem
tradicional, abandonando os exotismos herméticos. No
extenso poema Canto General de Chile
(1950), Neruda consegue atingir alguns dos
pontos mais altos dessa nova fase.
Poeta extremamente prolífico, Neruda
publicou ainda muitas obras até sua morte em 1978.
Fonte (editada)::
Enciclopédia Mirador
Internacional, Encyclopaedia Britannica do Brasil
Publicações Ltda, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasil, volume 15,
pág. 8.056.
Créditos
Pesquisa, edição de texto,
formatação:
Ida Aranha
Novembro, 2010
|