A
Porcelana de Sèvres
Fundada há mais de dois séculos e meio, a Manufatura Nacional de Sèvres é considerada a mais importante fábrica de porcelana da França. Ela sempre se notabilizou pela excelência de suas peças exclusivas que são muito apreciadas pelo estilo único de decoração e grande valor artístico.
Instalada em um
majestoso prédio à margem esquerda do Rio Sena, no Parque Saint Cloud, que
fica localizado a apenas dois quilômetros de Paris, a Manufatura Nacional
de Sèvres sempre se destacou das outras indústrias pela qualidade de suas
porcelanas, principalmente por causa do trabalho meticuloso de seus
artesãos. A Fábrica de Sèvres surgiu no segundo quartel do século XVIII,
apoiada na doutrina econômica do reinado de Luís XV, que favorecia as
artes e os artigos luxuosos. A manufatura de porcelana de pasta mole foi
criada por Orry de Fulvy, irmão do Controlador-Geral (Finanças) Orry de
Vignory, que pretendia com isso resolver os seus problemas de dinheiro.
Com um capital inicial de 10 mil libras, convocou alguns artesãos de
Chantilly e montou a fábrica no magnífico Castelo de
Vincennes.
A indústria, no entanto,
dava grandes prejuízos, causados principalmente pelos excessivos gastos
com suas suntuosas instalações. O Rei Luís XV assumiu as dívidas e passou
então a administrar a fábrica, cuja sede foi transferida para Sèvres em
1756. Além do rei da França, Madame Pompadour, os ricos negociantes e a
nobreza, todos admiradores das porcelanas de Sèvres, passaram a proteger a
manufatura. Luís XV emprestou a inicial do seu nome para ser marca das
peças. Os dois "L" entrelaçados, com coroa para a porcelana dura e sem
coroa para a cristalina, são as marcas mais antigas de Sèvres. Letras do
alfabeto indicam o ano em que foi fabricada a peça.
Em 1761 Hannong, que havia trabalhado na grande fábrica de Frankental, levou para a manufatura de Sèvres o segredo da chamada pasta dura. Com o descobrimento do caulim em solo francês, em 1765, surgiram porcelanas com esta matéria que, embora de qualidade inferior, marcou um ponto alto no fabrico de porcelana. A descoberta de jazidas de Caulim em Saint-Yrieix, em 1768, que permitiu a fabricação de porcelana dura de alta qualidade, fez crescer a indústria de Sèvres. Ao mesmo tempo as artísticas louças de pasta mole ficavam cada vez mais valorizadas. Foi nesta fase que surgiram as peças com modelos e ornamentos chineses e japoneses. Mas logo a fábrica retornou ao seu estilo único e reverenciado pelos maiores colecionadores de porcelanas da Europa. Na sua nova sede em Sèvres, a manufatura admitiu grandes nomes em todos os setores: Jean Hellot, que pertencia à academia de Ciências, foi contratado como químico; Duplexis, escultor-fundidor, cinzelador e dourador, foi contratado para dirigir os modeladores e laminadores; Mathieu, esmaltador do rei, foi encarregado da douração e pintura.
As primeiras peças fabricadas neste período foram puramente ornamentais: são ânforas, vasos, jarros de grande tamanho e produtos utilizados como decoração nos grandes palácios e residências. Gravart, Taunay e Caillot foram os descobridores de uma grande quantidade de cores, utilizadas com êxito: o famoso "bleu de roi", conhecido como azul real ou "bleu de Sèvres"; e o azul-turquesa (bleu turquoise). Xzrowet descobriu o "rosa-pompadour", muito utilizado no século XVIII nas decorações das porcelanas. Surgiram também roxo-violeta, o verde-maçã, o verde-folha e o amarelo-claro. Estas cores combinadas foram algumas das inovações da manufatura de objetos de decoração, e também nas bordas dos imensos aparelhos de jantar, onde o colorido, ao lado da decoração em ouro, dava às porcelanas um aspecto suntuoso e real.
Os mais famosos artistas franceses do século XVIII trabalharam em Sèvres: Bachelier, Falconet e Boizot eram os principais modeladores; Caillat era o principal preparador de cores e Hippolyte o encarregado da douração. Outros artistas renomados e talentosos também trabalharam na manufatura, entre eles Pigalle, Le Clerc, Pajou e Le Richel. Até 1769 a manufatura fabricou uma enorme série de figuras, grupos e peças puramente decorativas, com alegorias mitológicas. Nas peças pequenas surgem os cupidos e anjinhos, figuras representando as estações do ano. A Revolução Francesa e a queda da Bastilha em 1789, que causou grande transformação na França e no mundo, gerou nova crise na Manufatura Nacional de Sèvres. Seu diretor, Regnier, foi deposto e encarcerado. Somente em 1800, a crise foi debelada, graças a Alexandre Brogniart que selecionou os melhores artesãos para continuarem trabalhando na fábrica. Depois de Brogniart, dirigiram a indústria Regnault, Robert, Charles Lauth, Theodore Deck e Bawmgart. A porcelana de Sèvres passou a ser administrada pelo poder imperial, recebendo subsídios regulares e muitas encomendas da elite francesa assim como do Imperador Napoleão Bonaparte.
Durante o
Diretório apareceram os objetos de gosto Império, como ânforas, potiches e
vasos com decoração criada dentro do estilo, vendo-se nas alças das
ânforas figuras de cabeças de Medusa, de esfinges, etc. Encontramos nas
decorações dos objetos figuras da Época Napoleônica, retratos de Josefina
e Napoleão, depois Maria Luísa, o Imperador e seu filho. Nas jarras e
objetos vemos a presença dos cisnes de longos pescoços, que servem de
alças. Também aparecem decorações inspiradas na Grécia antiga. A cor mais
usada neste período foi verde, o chamado verde-império.
A popularização da porcelana, o aumento da produção industrial para atender o crescimento do mercado e a consequente queda de qualidade, não atingiu a fábrica de Sèvres, onde cada detalhe das peças é controlado com rigor. Os artesões passam horas transformando simples utensílios domésticos em obras de arte. Mesmo adotando os modernos fornos elétricos, a manufatura não abandonou os antigos fornos ingleses Milton, do século XIX. Com uma variedade de formas, temas e concepções, a indústria de porcelana de Sèvres continua assinando artesanalmente suas obras. Os artesãos continuam retocando cada peça, perpetuando a difícil arte da pintura em porcelana. A Manufatura Nacional de Sèvres sempre se manteve fiel à sua origem, conseguindo, através dos tempos, aumentar seu prestígio, firmando-se como a mais importante da França. O Museu de Sèvres, fundado em 1934, guarda muitas obras de arte recheadas de história que hoje são apreciadas por pessoas do mundo inteiro. Fonte: www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/61Sevres
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Créditos:
Música:
Les Feuilles
Mortes
Joseph Kosma,
1905-1969
Jacques Prévert,
1900-1977
Pesquisa e
Formatação:
Mario Capelluto
e Ida Aranha
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