Retrato inacabado, a óleo, de Mozart, por Joseph Lange,
1782
Há
divergência quanto à data. Consta também como sendo 1784 e
1789
WOLFGANG AMADEUS MOZART
1
Vida
WOLFGANG AMADEUS MOZART nasceu
em Salzburgo, Áustria, em 27 de janeiro de 1756 e morreu em
Viena em 5 de dezembro de 1791.
Retrato
de Mozart, 1763, aos 7 anos, possivelmente por Pietro
AntonioLorenzoni, Internationale Stiftung
Mozarteum
"Definitivamente o último concerto!...
O rapaz, com menos de sete anos, executará no
clavicórdio, tocará um concerto para violino e acompanhará
sinfonias no cravo, com o teclado coberto por um pano,
tão facilmente como se pudesse ver as teclas.
Ele dirá todas as notas tocadas a distância,
separadamente ou em acordes, e improvisará no clavicórdio e no
órgão quanto tempo desejarem. Entradas: ½
Taler."
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Assim dizia um anúncio, publicado em
um jornal alemão em 1763, como se tratasse de um fenômeno de
circo, referindo-se ao mais universal gênio da música, que o
mundo já conheceu:
Wolfgang Amadeus Mozart.
No
auditório estava sentado outro rapaz, Goethe, de 14 anos, destinado
a se tornar imortal. Anos mais tarde ele ainda se lembraria da
imagem brilhante do pequeno músico de cara alegre, que correu para
o banco diante do clavicórdio, com seu absurdo e extravagante
traje de cetim lilás, cabeleira empoada e espada minúscula, e se
atirou de todo o coração às notas rutilantes.
Wolfgang
Amadeus Mozart
A INFÂNCIA
Nascido com ouvido absoluto, ritmo infalível e
compreensão natural da harmonia, Mestre Mozart veio a este mundo com
um dom inexplicavelmente completo. Com a idade de quatro anos
aprendeu a tocar cravo (um precursor do piano moderno) e aos cinco
pegou um violino e, lendo à primeira vista, "arranhou" cinco trios
de ponta a ponta com seu pai e um amigo.
Essa
criança lia e escrevia notas antes de ler e escrever letras. Aos 15
anos era autor de 14 sinfonias e seis óperas curtas.
Leopold Mozart, seu pai, de Salzburgo, era violinista de
segunda ordem e professor de primeira. Sempre reverente diante do
gênio do filho, contudo o explorava; assim como à irmã de
Wolfgang, uma jovem e talentosa pianista.
Graças
à mala-posta, que havia substituído o solitário cavalo de sela como
meio de transporte usual, Leopold Mozart achou possível levar seus
dois filhos pianistas, Nannerl, de 10 anos, e Wolfgang, de 6, a
uma excursão de três anos e meio pela Europa. Poucas das cortes que
visitaram, tinham visto tais prodígios, mas embora Leopold fosse um
pai tão consciencioso quanto era bom músico, as crianças eram
algumas vezes exibidas mais como ursos dançantes do que como
artistas.
Os solavancos da carruagem, a lama das estradas, a
estalagem miserável e as longas horas de trabalho não conseguiam
exaurir a alegria e o espírito do rapaz. Os auditórios encantados
muitas vezes recusavam-se a deixar suas cadeiras, e o obsequioso
menino continuava tocando, tocando, aparentemente em um transe de
encantamento, inventando melodia após melodia, as notas
precipitando-se uma sobre as outras como o esguicho de uma
fonte dançando sobre flores. Até que, finalmente, o pai de Mozart
dava ordem de parar e as damas e os cavalheiros elegantes cumulavam
o menino de carícias e aplausos, os quais, entretanto, nunca
conseguiram estragar sua doçura natural.
Leopold Mozart, seu pai, foi o único professor do
menino. Wolfgang nunca foi à escola, mas dedicava-se com
entusiástico prazer a todas as formas de conhecimentos. O que mais o
fascinava era a Aritmética, e com o giz ele fazia somas e mais somas
sobre as mesas e nas paredes, encantado com uma ciência que produzia
um resultado certo e exato. Isto explica porque sua música é certa,
perfeita, completa em sua exatidão. Mas Mozart é feliz, terno e
carinhoso também; e sempre tão agradável, quanto fácil de
ouvir.
Nannerl era extraordinária, mas Wolfgang era um gênio como o
mundo talvez nunca torne a ver. Com quatro anos já decorava
musiquinhas simples e as tocava perfeitamente; com cinco compunha
suas próprias músicas; aos sete anos escrevia sonatas para violino
tecnicamente escorreitas; com oito anos tocava órgão e o fez na
primeira vez que encontrou um. Sua primeira ópera Mitridates,
Rei do Ponto, escrita apenas seis anos mais tarde, foi
apresentada 20 vezes com grande sucesso em Milão; antes dos 20 anos
escreveu e produziu mais três das suas óperas.
Chopin
estava profundamente envolvido pela música de Mozart e disse quando
estava para morrer: "Toquem Mozart em minha memória." Até mesmo o
orgulhoso Wagner se inclinava diante dele. Pode-se atribuir ao
puro manancial de Wolfgang Amadeus Mozart, muito do alegre
espírito das valsas de Strauss, e muitas das maravilhosas canções de
Schubert.
Constanze Weber Mozart Retrato a óleo
de Joseph Lange, 1789 ou
1782
O
CASAMENTO
O seu
casamento com Constanze Weber trouxe-lhe felicidade, mas
intermináveis dificuldades monetárias para ambos. Constanze era
ainda pior administradora do que ele. Um amigo encontrou-os uma vez
dançando para se aquecerem porque não tinham dinheiro para comprar
combustível para o aquecedor.
Embora
não fosse exímia como dona de casa ou como
musicista, Constanze ajudava muitas vezes o marido a satisfazer
um compromisso. Há uma história de como ele escreveu a bela abertura
de Don Giovanni na noite anterior à da primeira
apresentação da ópera. Enquanto ele ia rabiscando as notas -
provavelmente já estavam todas na sua mente desde algum tempo -
Constanze mantinha-o acordado dando-lhe a beber ponche e
contando-lhe histórias de fadas. Pela manhã ele havia terminado
o manuscrito, e nesta mesma noite a abertura foi tocada à primeira
vista, sem ensaio.
Mozart
trabalhava melhor sob pressão. Uma vez uma cantora chamada Duschek,
o manteve fechado na estufa de sua casa até que ele acabasse de
escrever a ária que lhe havia prometido.
Mozart, disse Constanze, escrevia música "como as outras
pessoas escrevem cartas". A melodia, uma vez na sua cabeça, era
passada com sua letra bonita e limpinha para o papel, quase sem
correções. Muitas vezes ficava improvisando até altas horas da
noite. "De onde e como vêm minhas idéias não sei, nem posso
forçá-las", escreveu ele.
Observando-o, podia-se perceber que sua mente raramente
estava vazia de música, pois era muito frequente vê-lo bater em
alguma peça de mobília ou no berloque do relógio, o compasso de uma
melodia que só ele podia ouvir. Gostava de jogar bilhar e durante
muito tempo teve uma mesa em sua casa, onde jogava com Constanze ou
mesmo sozinho. O rolar e o rebote preciso, sólido e tranquilo das
bolas dava, de algum modo, movimento à música que existia na sua
cabeça e até lhe sugerindo novas músicas. Enquanto jogava, ia
cantarolando, parando o jogo de vez em quando para anotar uma idéia
no caderno de notas que conservava aberto sobre a mesa de
bilhar.
Gostava muito de usar bordados e jóias, jogar, dançar,
fazer versos de pé quebrado e bailes de máscaras. Em sua música
podemos sentir a jovialidade desses corações levianos, mas também
a fantasia alegre das máscaras usadas para
encobrir preocupações e pesares.
Quando
seu pai ficou doente, Mozart lhe escreveu: "Como, para sermos
exatos, a morte é o verdadeiro alvo e fim de nossas vidas, neste
último ano eu me tenho familiarizado de tal modo com esta amiga da
humanidade, a melhor e mais fiel, que sua imagem não mais me
assusta, mas, ao contrário, me acalma e me conforta."
O
verão de 1788 foi um dos mais sombrios para Mozart. Estava
endividado, Constanze estava doente e, nos últimos dias de junho,
sua filhinha Theresia havia encontrado o "verdadeiro alvo e fim" de
sua curta vida. Apesar de tudo , nesse verão Mozart compôs suas três
últimas e maiores sinfonias. A de Nº 40, em Sol Menor, K 550,
uma obra com graça pungente e primorosas variações,
é considerada por muitos músicos o ápice de toda a música do século
XVIII.
A MORTE
Quatro
anos depois, o próprio Mozart morria com a idade de 35 anos, o corpo
consumido pela doença, as preocupações e a luta incessante. Sua
ópera fantástica e misteriosa, a Flauta Mágica, fizera um
enorme sucesso alguns meses antes. Enquanto morria lentamente,
acompanhava, na imaginação, de relógio em punho, suas
representações distantes, cena por cena.
Constanze ficou demasiado acabrunhada para ir ao enterro.
Amigos que foram, voltaram do meio do caminho por causa de uma
tempestade súbita e o único ente querido que o viu ser enterrado
numa cova comum foi o seu fiel cão vira-lata.
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