BIOGRAFIA
1ª parte
(a 2ª parte encontra-se em Antonio Vivaldi 2
e
Obras em Antonio Vivaldi 3)
PRIMEIROS ANOS
Antonio Lucio Vivaldi nasceu em Veneza, Itália, em 4 de
março de 1678. Como nessa época não existia uma Itália unificada, a cidade
e sua região formavam uma república independente - a Sereníssima
República. Era um ducado próspero e influente, muito ligado às artes: eram
venezianos Monteverdi, Tiepolo, Tintoretto, Canaletto, Zeno, Albinoni... e
Vivaldi claro... que iria se tornar um dos mais
célebres.
O pai dele, Giovanni Battista Vivaldi era barbeiro, fabricante
de perucas, e também tocava violino aparentemente
bem, o suficiente para conseguir um emprego na Basilica
de San Marco, em 1685. Foi com o pai que Antonio Vivaldi aprendeu a
tocar violino. Antes da popularidade de Antonio com L'Estro Armonico, o
"Vivaldi" era oum conjunto de pai-e-filho - uma das atrações
turísticas principais de Veneza.
Antonio demonstrou vocação musical desde pequeno. Foi educado
pelo pai, que o iniciou ao violino; seus progressos foram tão evidentes
que logo entrou como "extra" na Capela Ducal, ao mesmo tempo em
que seu pai o encaminhava ao sacerdócio. Giovanni planejava a
carreira do filho com exatidão: Antonio, como padre, teria todas as
garantias e a proteção da Igreja, com trânsito livre no meio musical
de Veneza.
Antonio sempre teve uma saúde frágil. Consta
que já correra risco de vida logo ao nascer, tanto que seu batizado
ocorreu apressadamente, poucos instantes após o parto. Os Vivaldi eram
conhecidos na cidade pelo apelido de "Rossi", isto é, "os vermelhos",
porque a maior parte dos membros da família eram ruivos - coisa um tanto
rara na época, o que despertava a atenção de todos e não os
fazia bem vistos.
Antonio recebeu a tonsura em 1693, quando tinha 15 anos, e foi
ordenado dez anos depois, quando, já chamado de Prete Rosso - Padre
Ruivo- assumia o cargo de professor de violino no "Ospedale della Pietà",
instituição religiosa que fornecia abrigo e formação musical a meninas
carentes.
O PADRE
Vivaldi se ordenou padre em 1703. A sua ordenação precedeu a sua atividade de compositor, mas é transparente que seu coração e a alma foram dedicados completamente à música, recusando-se a celebrar Missas, alegando motivos de saúde, mas sendo sabido que era uma desculpa por ter interesses mais fortes em outras áreas. Não consta que Vivaldi tenha composto nenhuma música sacra nos primeiros dez anos em "Ospedale". Provavelmente era pura falta de interesse; preferia suas outras atividades, viajando com uma pretensa amante e compondo óperas, o que o levou a quase ser excomungado. O
PROFESSOR
Aos 25 anos, Vivaldi, professor de
música, ensinava as adolescentes a tocar um instrumento e a
escrever dois concertos para apresentar todos os meses, trabalho que
exerceu durante trinta e cinco anos, alternando sua
atuação no "Ospedalle" com os interesses em ópera e
viagens.
Parecendo um verdadeiro paraíso para um maestro
ativo e jovem, considere esta referência feita por
Rousseau: " O canto de Vésperas é apresentado por jovens abaixo de vinte anos, atrás de galerias com telas. Não consigo conceber nada tão voluptuoso, tão envolvente como essa música. O que eu lamentava era essa amaldiçoada grade permitindo que só os sons a atravessassem, escondendo os anjos de beleza e graça que os produziam, motivo por que M. le Blond's, o diretor, um dia me diz: - 'Se você está tão curioso em ver essas meninas, eu posso satisfazê-lo facilmente e o convido a tomar um lanche com elas.' Quando entrei na sala onde estavam essas belezas desejadas, a sensação foi inusitada. M. le Blond's me apresentou as adolescentes: 'Venha, Sophie.' Era horrível. 'Venham, Cattina, Bettina'; a varíola as tinha desfigurado. Duas ou três, porém, pareciam toleráveis, mas cantavam nos coros. Fiquei desolado. Feiura não exclui charme, e eu acabei me encantando - e meu modo de olhá-las mudou tanto - que eu parti quase apaixonado por todas essas meninas feias." Vivaldi tornou-se diretor do "Ospedale" em 1705. Era um grande
posto, apesar de mal pago. Tinha à sua disposição uma boa orquestra, coro
e solistas, que permanentemente e sem limitações de espécie alguma, lhe
permitiam a execução de suas obras e toda a sorte de experiências
musicais.
A Diretoria de "Ospedalle" tinha que
renovar, anualmente, o contrato de Vivaldi, que durou,
inicialmente, seis anos, antes que ele fosse dispensado em 1709,
constando que a Banca se contrariava com a recusa continuada de
Vivaldi em celebrar Missa, alegando que a asma - de que sofria desde
bebê - o impossibilitava para cerimônia tão longa. Também preferiam
um professor em tempo integral, embora lhe tenham permitido licença
ocasional para viagens, mas Vivaldi já tinha tido contatos para viver
fora de Veneza e a fama adquirida no colégio lhe prometia substancial
retorno financeiro. No entanto, quando ele voltou a Veneza em 1711,
o "Ospedale" o aceitou de volta entusiasticamente, a 60 ducados por
ano, permitindo que ele se dedicasse, ainda, a outros
projetos.
Existiam quatro ospedali semelhantes em Veneza, todos famosos
por sua música - segundo Jean-Jacques Rousseau, "muito superior à das
óperas, sem paralelo na Itália". A Pietà era a mais respeitada delas e
seus concertos eram frequentados pelas pessoas mais influentes da época,
inclusive reis, raínhas e toda a nobreza de então, com quem Vivaldi
começou a entrar em contato constante e iniciou sua fama
internacional, fazendo viagens e publicando suas obras.
Além de lecionar no "Ospedale" ,Vivaldi
se dedicou à ópera. Começou no teatro não apenas como compositor, mas como
empresário, em 1713, quando sua primeira ópera, "Ottone in Villa", foi
encenada em Vicenza. Mas seu nome ficaria ligado ao teatro Santo Ângelo,
de Veneza, onde seria o principal organizador - mais modernamente diríamos
"agitador cultural". Como empresário de ópera Vivaldi teve uma vida das
mais atribuladas. O Padre Ruivo não parava: contratava e dispensava,
resolvia atritos entre cantores, solucionava problamas financeiros,
ensaiava, montava turnês... e sua "stretezza di petto"? Parece que a
doença não era empecilho.
Não bastasse o afastamento das funções da igreja e a atividade
no teatro, nosso estranho padre ainda vivia cercado de um séquito bastante
curioso: cinco mulheres - Annina, sua cantora predileta, Paolina, a irmã,
a mãe das duas e mais um par de outras moças. Obviamente, Vivaldi
tornou-se vítima de toda uma série de ataques e comentários. O mais
célebre foi um livro do compositor Benedetto Marcello, denominado "Il
Teatro Alla Moda". O texto é destinado a quem quiser fazer sucesso na
ópera, e dá conselhos a compositores, libretistas, cantores, músicos,
cenógrafos e até às mães das cantoras! De maneira sarcástica, Marcello faz
inúmeras alusões a Vivaldi, denominado ironicamente "compositor
moderno".
O
VIAJANTE
A Itália era, na ocasião, uma coleção de cidades soberanas.
Cada cidade era governada de acordo com suas próprias leis, e agia
independente como um todo da nação. Veneza era uma cidade
muito próspera. e se tornou o destino predileto de
viajantes de toda a parte da Europa e a orquestra de "Ospedalle" de
Vivaldi era uma das principais atrações, bem como o dueto primoroso de pai
e filho, Giovanni e Antonio Vivaldi.
Certamente o encontro de músicos e turistas de toda a parte da Europa, o ajudaram a estimular o seu entusiasmo por terras estrangeiras. Vivaldi deixou Veneza durante três anos para viver em Mantua a serviço do governador Príncipe Philip of Hesse-Darmstadt. Quando voltou a Veneza assumiu o compromisso de meio período com o "Ospedalle", escrevendo dois concertos por mês, sem ter que apresentá-los. Isto lhe deu oportunidade para viajar como ele desejava. Foi para Roma, Bohemia, Amsterdã, e Dresden. Johann Sebastian Bach, dez anos mais moço, nunca se
encontrou com Vivaldi, mas ficou muito impressionado com
L'Estro Armonico, Opus 3, e transcreveu seis dos concertos de Vivaldi para
instrumentos - como o cravo e o
órgão.
As viagens de Vivaldi, em parte, eram uma desesperada procura de trabalho. Não era pobre, de forma alguma, porque, em certa época, ganhava 50.000 ducados anuais, mas, à medida que envelhecia, investia a maior parte deste dinheiro em espetáculos de ópera e arcou com muitos prejuizos. Só havia dois modos para ganhar dinheiro: ou como compositor ligado a uma corte, igreja ou entidade semelhante, ou pela venda de um trabalho publicado. Vivaldi buscou estabelecer-se em Paris e Viena sem êxito. Um outro modo de ganhar dinheiro era através de eventos, de dedicatórias. Frequentemente os compositores eram procurados para escrever trabalhos quando um protetor rico precisava dessas peças, às vezes retribuídas com presentes caros. Outra forma para conseguir lucro era colecionar vários trabalhos em um opus. O opus era um artigo altamente comerciável com um único trabalho, e também excelente para incluir trabalho inédito mais antigo com trabalho novo. Vivaldi publicou 12 coleções, convenientemente tituladas Opus 1 - 12. Veneza,
Ponte Rialto
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Fundo
Musical:
As
Quatro Estações - Primavera
Produção e Formatação:
Mario
Capelluto e Ida Aranha
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